Hepatite, uma doença responsável por cerca de 1 750 000 mortes no planeta, anualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Mortes estas vindas de complicações das diferentes hepatites, como é o caso da cirrose ou do câncer de fígado.
Os dois principais tipos de hepatites virais relacionadas ao aumento do risco de desenvolvimento de câncer do fígado são as hepatites B e C.
Daí a importância de se vacinar. Não há imunização para o tipo C (saiba mais a seguir), mas, desde os anos 1990, a vacinação contra a hepatite B está inclusa no calendário de vacinas do Ministério da Saúde para crianças e profissionais de saúde.
“Normalmente são prescritas três aplicações da vacina. Assim, garante-se uma produção adequada das defesas (anticorpos) contra o vírus, que permanecem por toda a vida do indivíduo”, explica o Dr. Felipe Coimbra, head do Departamento de Tumores Abdominais do A.C.Camargo Cancer Center.
“A vacina protege não apenas contra o aparecimento de tumores de fígado, mas também ante doenças precursoras como a cirrose e a fibrose hepática”, acrescenta o médico.
Se você não se vacinou, procure um médico e faça um exame de sangue para verificar a eventual presença do vírus. Ao dar negativo, vá a um posto de saúde e tome suas doses.
Hepatite e prevenção de infecções
Muitos dos tumores são desencadeados por infecções de micro-organismos. O câncer de colo de útero, por exemplo, pelo HPV; o de estômago pelo H. Pylori, entre outros.
Para defender-se das hepatites virais dos tipos B e C, que são fatores relacionados ao desenvolvimento do câncer de fígado, a prevenção contra infecções é essencial.
“Esse tipo de infecção que resulta nas hepatites é relativamente comum, pois pode ser transmitido por via sexual e através de objetos contaminados com sangue, como seringas, alicates e outros itens perfurocortantes”, afirma Felipe Coimbra.
O ABCDE da hepatite
Hepatite A
Como se pega: por água e alimentos contaminados, assim, verifique sempre a procedência deles e lave-os bem. O tipo A também pode vir em relações sexuais, devido a resquícios de fezes não evidentes a olho nu.
Sinais e sintomas: febre, mal-estar, náusea, vômito, dor abdominal e olhos amarelados.
Vacina: para crianças menores de 5 anos e pessoas com alguma doença no fígado.
Cura: quase sempre o próprio corpo elimina a hepatite A no período de dois a seis meses.
Pode virar câncer de fígado: não.
Hepatite B
Como se pega: pelo sexo sem proteção, pois o vírus passa pelas secreções genitais de ambos os sexos. Também pode ocorrer se o sangue de alguém infectado entrar em contato com o de outra pessoa – por exemplo, se a manicure não esteriliza seus instrumentos, além de seringas compartilhadas, tatuagem, piercing etc.
Sinais e sintomas: urina escura, fezes claras, náuseas, vômitos e dores abdominais.
Vacina: sim.
Cura: pode acontecer espontaneamente, graças ao sistema de defesa do organismo, ou se tornar uma infecção crônica. Deve-se tomar medicamentos para aliviar os sintomas e atenuar o risco de complicações no fígado – às vezes, o quadro pode se agravar e culminar no transplante do órgão.
Pode virar câncer de fígado: sim.
Hepatite C
Como se pega: pelo sangue contaminado e por relações sexuais, assim como a B. Também pode acontecer de forma perinatal, ou seja, de mãe para filho durante a gravidez ou o parto.
Sinais e sintomas: é silenciosa na maioria dos casos, mesmo quando o fígado já está bastante afetado. Em estágios mais avançados, pode haver barriga d’água, vômitos, pele amarelada (icterícia), dores musculares e muito cansaço.
Vacina: não há.
Cura: sim, em mais de 90% dos casos, desde que o paciente siga corretamente o tratamento.
Pode virar câncer de fígado: sim.
Hepatite D
Como se pega: pelo contato com sangue contaminado e por relações sexuais, assim como a B e a C. Também pode ocorrer de forma vertical. O indivíduo precisa estar infectado também pelo vírus da hepatite B para que a hepatite D se desenvolva.
Vacina: não há.
Cura: entre 30 e 95% dos casos, a cura se dá pelo sistema imune no momento da infecção. Caso torne-se crônica, não há tratamento curativo.
Pode virar câncer de fígado: sim.
Hepatite E
Como se pega: por água e alimentos contaminados, assim como a hepatite A.
Vacina: não há.
Cura: sim, é eliminada pela imunidade. Não há relato de infecção crônica. Em gestantes, porém, a hepatite é mais grave.
Pode virar câncer no fígado: não.
Outras manifestações clínicas
Por Daniel Garcia, oncologista clínico do A.C.Camargo Cancer Center
Hepatite aguda
Após entrar em contato com o vírus, o indivíduo pode desenvolver hepatite aguda em um primeiro momento. Esse quadro inicial pode ocorrer na infecção por qualquer um dos vírus da hepatite.
E, geralmente, perdura por um período máximo de seis meses, que evolui em três etapas:
- Período pré-ictérico: ocorre após o período de incubação do vírus. Os sintomas são pouco específicos, podendo o indivíduo sentir náuseas, vômitos, perda de apetite, diarreia, febre baixa, mal-estar, fadiga, dor muscular, cefaleia, sensibilidade ocular à luz, dor abdominal, dores articulares e manchas avermelhadas na pele.
- Fase ictérica: surge a icterícia onde pele, olhos e mucosas tornam-se amarelados. Há redução dos sintomas do período pré-ictérico, porém a dor abdominal secundária, a inflamação e o aumento do tamanho do fígado podem piorar. Também é possível ocorrer um aumento do tamanho do baço.
- Fase de convalescença: desaparecimento da icterícia. A recuperação completa ocorre após algumas semanas, mas a fraqueza e o cansaço podem persistir por vários meses.
Hepatite crônica
Está relacionada às infecções pelos vírus B, C e D. O diagnóstico de cronicidade é estabelecido quando persiste a detecção do vírus por mais de seis meses após a infecção inicial.
Pode cursar de forma silenciosa, contudo o vírus ainda pode ser transmitido, o que constitui fator importante para a propagação da doença.
No longo prazo, os indivíduos infectados cronicamente tendem a ter agravamento da doença hepática. Os casos crônicos podem evoluir com desenvolvimento de fibrose, cirrose hepática e suas complicações, como o carcinoma hepatocelular.
Hepatite fulminante
É uma complicação muito rara (menos que 1% dos casos infectados), porém a mais temida.
Caracteriza-se por insuficiência hepática aguda, com surgimento de icterícia, alteração da coagulação do sangue e encefalopatia (alteração do nível de consciência secundária à falência hepática). Pode ser necessário o transplante hepático.